segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Adriano Espínola

Adriano Espínola
"treme a noite com suas estrela pulsando solidão à distância"




Com 16 anos, Adriano Alcides Espínola participou de um festival intercolegial de poesia. Como prêmio, ganhou livros, inclusive Tijolo de barro, do cearense Horácio Dídimo, um dos seus primeiros heróis literários. Depois, vieram Oswald e Mário, Drummond e Bandeira, Whitman e Maiakovski, mais os cordelistas do Nordeste e o pessoal de sua geração: "Minha poesia resulta da obra de todos estes poetas, os quais, junto com as precárias percepção/experiências que pude ter das coisas, me ajudaram a encontrar meu ritmo, que é vário, e a escrever alguns versos toleráveis."

Adriano Espínola, um dos fundadores, em 1979, do grupo literário Siriará, vê a poesia como "linguagem em estado de aventura, não obstante revelar-se a mais humilde das artes". Em 1989, já com quatro livros publicados, obteve o título de mestre em Poética pela UFRJ. Convidado para lecionar Literatura e Cultura Brasileira na Universidade Stendhal-Grenoble III, na França, só retornou ao Brasil em 1992, para morar novamente em Fortaleza. No mesmo ano, publicou uma série de crônicas no jornal O Povo e teve o livro-poema Táxi lançado na coleção World literature in translation, da Garland Publishing, em Nova York e Londres.

O lirismo, o apuro formal e o conteúdo humanístico são marcas da poesia de Adriano Espínola. Em sua obra, o poema surge da memória visual de algo concreto ou de uma sensação que perdura: "Então vem o duro trabalho de fazer e refazer, cortar e acrescentar palavras e versos". Mas existem os poemas que surgem praticamente prontos, "pequenos pássaros verbais, difíceis e raros, que já nascem cantando - eu tive a sorte de encontrar alguns".

1952, nasce no dia 1. de março, em Fortaleza - CE


"Tenho, enfim, mil razões para não ser poeta e uma só para sê-lo. É esta que me salva. Escrevo por um fio."

"Momento de intenso prazer: a construção do poema, seu desabrochar semântico/rítmico. Tudo entre parênteses - o mundo desabando - e, você (que é outro) ali firme, compondo o poema que tem que acabar, por cima de pau e pedra. Essa felicidade criadora, entretanto, busca obsessivamente seu fim, ao querer concluí-lo logo, arredondá-lo. Em seguida, faço o movimento contrário. Trato de esquecê-lo na gaveta, para retomá-lo um dia ou, quem sabe, anos depois."
(Adriano Espínola)

"Adriano Espínola é um mestre no verso livre. Os intertextos são frequentes, em especial a alusão a autores brasileiros e estrangeiros, destacando-se Rimbaud, com o desregramento de todos os sentidos."
(César Leal)


A RENDEIRA

Na teia da manhã que se desvela,
a rendeira compõe seu labirinto,
movendo sem saber e por instinto
a rede dos instantes numa tela.
Ponto a ponto, paciente, tenta ela
traçar no branco linho mais distinto
a trama de um desenho tão sucinto,
como a jornada humana se revela.
Em frente, o mar desfia a eternidade
noutra tela de espuma e esquecimento,
enquanto, entrelaçado, o pensamento
costura sobre o sonho a realidade.
Em que perdida tela mais extrema
foi tecida a rendeira a este poema?...

Obras do autor
POESIA: Fala, favela, 1981; O lote clandestino, 1982; Trapézio, 1984; Táxi ou poema de amor passageiro, 1986; Metrô, ou viagem até a última estação possível, 1993; Em trânsito, 1996; Beira-Sol, 1997.
ENSAIO: As artes de enganar: um estudo das máscaras poéticas e biográficas de Gregório de Mattos, 2000.

Fonte: 100 Anos de Poesia - Um panorama da poesia brasileira no século XX - volume II - organização Claufe Rodrigues e Alexandra Maia - O Verso Edições - 2001 - Rio de Janeiro.

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